domingo, 16 de agosto de 2009

Gota de resignação.

Chega de verdade, chega de querer parar o tempo, chega de oceano de revolta. Vivo a simplicidade das coisas. O mundo que cheiro, degusto e sinto. Chega de universo se movendo, viva o movimento do universo. Descanso em paz. Não encontro respostas para grandes perguntas e fico satisfeito. Amanhã tudo muda novamente e o turbilhão da vida prossegue seu curso tortuoso, quase aleatório, quase manuseado pela projeção de nós. Não sou nada em meio à tamanha imensidão. Sou um ponto se movendo em uma imagem de satélite, entre tantos outros pontos que, sem saber, constroem satélites que nos vêem e nada dizem sobre nós. Assim é a vida: besta e sem sentido. Para respirar é preciso, quando em vez, viver com toda intensidade essa falta de sentido. Inspira, respira. (...) Não é bom?

4 comentários:

  1. Acredito que uma idéia escrita é uma idéia ferida e escravizada a uma certa forma material, por isso dá tanto medo sentar-se para trabalhar, porque é uma coisa de certo modo irreversível. Quando todo o resto falha, quando a realidade apodrece, quando sua existência naufraga, você sempre pode recorrer ao mundo narrativo. É isso que sinto quando leio seu blog.

    da anônima!

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  2. Eu diria (e escrevo) que uma idéia escrita morre para o autor e nasce, de forma quase arbitrária, para o leitor. A linguagem e a morte, dizia Heidegger, mantém algum canal secreto de comunicação que se manifesta tão abruptamente como um raio. Este blog é um verdadeiro tabu para mim. No bom sentido freudiano, uma dádiva e uma maldição ao mesmo tempo. (acho que é isso) Escrevo para exorcizar meus fantasmas e crio monstregos, como mortos vivos. Meu texto é uma idéia morta-viva. Nasce faltando pedaços, sem braços, às vezes sem pernas e, não raro, sem cérebro. Mas não há entorpecente melhor para suportar a agruras da vida do que a sensação de alívio. Por isso já não me importo em não conseguir dizer as coisas com a precisão de um literato ou de um bom filósofo. Escrevo em linhas tortas e assim percebo e aceito a minha incapacidade de dizer. Não foi essa a nossa bendita herança da modernidade? Ou bem nos resolvemos com ela ou desatinamos todos.

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  3. E você não tem medo (acho que outra herança da nossa tão famosa modernidade) que as palavras voltem "cobrando" respostas e/ou explicações? Acredito que, as palavras, assim como a morte permanecem na memória e, nos cobram muitas coisas! Todo o tempo. Por isso, como você bem disse: exorciza fantasmas, mas cria monstregos.

    da anônima.

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  4. Os "monstregos" têm vida própria. Já não me assombram tanto como quando eram fantasmas. Além do mais, depois de pensar muito sobre a atitude do ermitão japonês que davi comentou no post "queremos saber", acredito já ter desprendimento o suficiente para a qualquer momento excluir tudo o que escrevi aqui, se me der vontade. Hoje meu inimigo maior não é o medo, mas a coragem. A prudência da velhice certamente vai se impor diante dos perigos da coragem, mas eu não estou preocupado com isso ainda. Eu pulei do precipício e não quero pensar como vou chegar ao chão. Gosto da sensação de voar, de achar que tenho asas e de sonhar pisando em terra firme também. É assim que a vida vale a pena pra mim.

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