sábado, 27 de junho de 2009

Janela.

Gosto de viajar olhando pra fora do ônibus. Sinto claustrofobia quando sento na poltrona do corredor. Olhar demais pra dentro dá náuseas. Um desespero. A passagem do mundo pela janela do ônibus me liberta, eu abro a janela e respiro. Não por outro motivo me dedico a esse papel um tanto ridículo de escrever aqui: preciso jogar pra fora os excessos de eu mesmo que acumulo durante o dia. Como um corpo que se devora e cujo sistema digestório não é capaz de absorver tudo, eu vomito isso aqui [por isso o ácido]. Senão pode dar merda. Ou pior. Se absorver tudo posso ficar tão obeso que não consigiria me mover.

Este blog é o meu sanitário público.

Pelo menos tenho talento para metáforas de mau gosto. Por falar em mau gosto, Serrinha faz a maior vaquejada do brasil. Não gosto de vaquejada. Nem de rodeio (sinto certo nojo). Esse ano tem Claudia Leite, aquela moça sofrível porque almeja destronar aquela outra que pelo menos é original. Preciso parar em Serrinha pra descobrir o que há de bom na cidade (sempre há).

[a poltrona desse ônibus é horrível]

Conceição do Coité é uma cidade simpática e organizada. E tem uma fonte luminosa de bom gosto na praça – algo que eu nunca imaginei que pudesse existir. Em Santaluz eu passo sempre às oito e trinta. Na saída da cidade, onze casas sempre estão com as portas da sala abertas. Oito delas assistem o jornal nacional. Aquela mecha branca de Willian Bonner não me convence de que ele é uma pessoa séria. Vocês já o viram imitando Clodovil no you tube? Coloquem na busca: Willian Bonner + Clodovil.

[reparem no bico ridículo de bonnner]

[sempre acordo ]A FTC de Cansanção faliu. [Ou mudou de lugar]

[o monte merece um post futuro]

A lua que me recebe em Monte Santo é estarrecedora de linda. Lembra Catulo da Paixão Cearense. Mas o ‘Monte’ não é só. O ‘Monte’ é muito. O ‘Monte’ é reticências...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

São João.

No dia 21 alguém me disse que com o domínio dos eletrônicos e o escanteiamento do forró pé de serra o são joão já era. Pensei rápido e discordei. O são joão está aí, vivo. Nós (e me incluo aqui já na categoria dos saudosistas) é que ficamos velhos. Se antes a zabumba batia no compasso da nossa pulsação, hoje são as batidas sintéticas do teclado que orientam o ritmo da dança (o forró é feito pra dançar). Eu não gosto da batida de teclado, mas muita gente gosta.

Eu gosto é de Aviões do Forró.

E como diz Gil, gosto de gostar. Eles vieram pra sofisticar a batida eletrônica. Na linha evolutiva do forró eletrônico eles são tão vanguarda em relação à 'calcinha preta', por exemplo, quanto o 'fantasmão' é em relação ao 'é o tcham'. Eles inventaram uma batida que 'quebra' de uma forma muito agradável e sofisticada o tempo da música (riquelme na 'batera'); o contrabaixista parece ter compreendido essa 'sofisticação' e faz coisas inacreditáveis em cima da linha da bateria; os metais também são impecáveis e me lembram 'los hermanos'. A prova de que estou ficando velho e da sofisticação desse novo forró é o fato de eu não saber dançar nesse novo compasso (assim como nunca consegui dançar arrocha). Na minha opinião, eles fazem forró tradicional. Mais que isso: inventaram uma tradição. Se o mestre lua cantava as caminhadas dos sertanejos no sertão de canindé, a música de aviões do forró retrata hoje o que há de mais típico nas cidades sertanejas do interior. Ninguém mais anda a pé.

As motocicletas se multiplicam como pragas na lavoura de feijão.

A linha que separa o mundo 'urbano' do 'rural' está se liquefazendo (para usar o termo de baumman). Os adolescentes estudam na cidade, acessam a internet, tem orkut, e a tarde vão bater feijão no terreiro da casa. Fico intrigado em pensar o que passa pela cabeça deles. Eu, sinceramente, estaria completamente desorientado. E talvez o reflexo dessa 'desorientação', agravada pelo próprio fato de serem adolescentes, seja a fotografia perfeita da cena "alô, tô num bar, chegue já! tô aqui comendo água, fazendo farra'.

[retorno ainda a este tema. tem muito caroço nesse angu]

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Email.

(o bloguer/blogspot é da google também. depois voce diz que minhas paranóias com o google não tem fundamento. eu quero evitar aderir a tudo que o google fizer porque o google quer virar uma nova microsoft. então, se eu e muitas outras pessoas não mudarmos tudo pra google, ele não vai conseguir dominar o mundo. eu tenho orkut e esse blog agora. o flick é do google? não me espantaria. e voce ainda aderiu ao gmail, como todo mundo. eu não gosto do gmail. gosto do yahoo porque o yahoo queria ser igual ao google no começo, mas não conseguiu e hoje já não é mais uma empresa tão ambiciosa. não me constrange oferecendo uma série de serviços que não servem pra nada. eu vi numa reportagem que na sede da google, nos EUA, não trabalham mais do que 40 pessoas. imagine 40 pessoas dominando o mundo! a google é pequena e a rede é vasta. a batalha entre a anarquia e o oligopólio é o futuro da internet. é bom ir pensando desde já de que lado da trincheira a gente vai se posicionar. eu fiz um blog no google para estar do lado da anarquia, mas como o blog é da google, é o oligopólio que me sustenta. otário. ou será que o otário sou eu?)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Editorial.

Evitarei postagens longas, como abaixo, por entender que a comunicação no mundo virtual exige textos curtos e certeiros. Afinal, proponho este espaço como lançamento de 'fragmentos de pensaçoes' justamente porque aqui não cabem pensações inteiras.

O texto abaixo é uma primeira exceção e não necessariamente a última. Venci a resistência inicial de publicar algo que aparentemente trata da minha vida privada - que não me agrada expor - porque ele traduz com uma clareza que me impressiona o ponto de vista a partir do qual lanço meus fragmentos.

Fundamentalmente, nele me agrada a clareza com que demonstro ter finalmente extirpado qualquer sentimento de culpa ainda guardado no baú. Despreguei Jesus da cruz. A partir de então, minha responsabilidade com o mundo funda-se numa opção que tem origem no amor que ao mundo dedico, e não por qualquer sentimento mesquinho de que não fiz o suficiente e devo me penitenciar. E ponto.

[p.s. esse sentimento mesquinho a que me refiro associo meio que automaticamente a certas figuras do movimento estudantil (quase todas); mas eu ainda não me atrevo a aprofundar nesta e em outras opiniões sobre eles (apesar de ser tentador) porque tenho alguma noção do perigo das pessoas concordarem comigo.]

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Quarto.

O meu quarto tem banheiro e isso representa, de forma geral, um protesto pela manutenção de um mínimo de conforto material. Não gosto da miséria nem tampouco da estética oriunda dela enquanto idealização de aproximação pessoal de um modo de vida que hoje não preciso manter. Não é retornando aos desmandos impostos pelas necessidades primárias que pretendo tentar compreender as pessoas, o mundo e o meu papel dentro dele. O pouco – mas conforto – que exijo integra uma concepção de que ele é necessário para manter certa tranqüilidade no fazer e pensar as coisas, não necessariamente nesta ordem.

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O quarto não é somente o lugar em que minha individualidade se impõe na minha casa, na qual os espaços públicos contemplam tão bem a síntese da nossa pequena sociedade doméstica; é o ponto convexo oposto ao côncavo da minha relação com o mundo e com as coisas do mundo. É onde o meu lugar no mundo exterior também está representado, como nos livros à esquerda do computador portátil no qual escrevo, mas o está fundamentalmente em relação com um conjunto de outros mundos que, de alguma forma, refletem o estado de espírito do meu momento.

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O meu quarto é amplo o suficiente para visualizar com clareza, de qualquer ponto em relação a ele, a forma como esses mundos que hoje compõem o meu modo de ser se relacionam. Sobre a mesa de estudos está este computador portátil, adquirido de terceira mão e defasado tecnologicamente, contudo, eficiente como meio de me fazer expressar com a precisão que almejo. Atrás do computador portátil, recostado na parede, um LP de Elomar Figueira de Melo, ilustre cantador das trovas do sertão. Os livros ao lado esquerdo, citados anteriormente, fazem parte de um universo que poderia chamar de “pesquisas aplicadas”. Reforma agrária, comunidades tradicionais, teorias progressistas do direito, entre outros semelhantes, se empilham em fotocópias cujos textos estão frequentemente grifados e, vez ou outra, comentados com caneta azul.

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Do lado direito, estão empilhados três livros que representam o meu deleite e o meu prazer em perceber como é possível pintar, compor, criar outros mundos a partir da literatura. Sem ela - e sem a arte de um modo geral - o mundo seria tão monótono que a vida tão logo se tornaria insuportável na terra. O primeiro, sobre os outros, mas não necessariamente em ordem de importância, a Arte de Escrever, de Shopenhauer, que tem me feito compreender a importância de ter clareza de idéias no momento da escrita; As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, que representa em mim a possibilidade de perceber o mundo enquanto narrativa fantástica e ao qual sempre recorro nos momentos derradeiros de produção intensa e autônoma de pensamentos; por fim, as Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, que representam a síntese, que considero encantadora, entre os meus mundos, os mundos de Shopenhauer e as cidades-mundos de Calvino. Estas três obras sobre a minha pequena mesa de estudos representam com algum êxito a minha atual proposta de contato com o mundo literário.

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Abaixo delas, alguns textos fotocopiados – que pretendo utilizar no último capítulo da minha monografia – aos quais ainda não me dediquei sistematicamente. Eles fazem parte de uma teoria, a meu ver, bem intencionada, mas que ainda me soa extremamente duvidosa. Neste último capítulo do trabalho abjeto que entendo ser a minha monografia, pretendo abordar as tendências do multiculturalismo no estado contemporâneo com muita desconfiança do êxito dos seus propósitos. Isso reflete uma opção muito bem pensada de não ovacionar tão efusivamente e gratuitamente o que entendemos como “avanços” do direito na atualidade. No mundo limitado dos auto-proclamados operadores do direito, esse festejo eterno pelos avanços da constituição é imbecil e patético. Prefiro, entendo como mais honroso, prazeroso e útil, refletir e pensar sobre o que entendemos como “avanços” da contemporaneidade a partir da perspectiva dos seus possíveis efeitos colaterais no futuro até o ponto em que alcança a minha capacidade de projetá-lo.

Celular.

Nunca consegui usar uma agenda de forma que necessitasse consultá-la para marcar um novo compromisso. Prefiro usar o calendário do telefone celular, que me parece mais prático.

O celular é um aparelho excepcional.

Reúne em um só objeto um calendário – no qual posso inserir lembretes sobre os compromissos do dia; um relógio para que eu possa calcular a velocidade que preciso executar minhas tarefas ordinárias; uma calculadora, para saber cotidianamente como minha situação financeira virtual se reflete em números; um despertador que garante que eu acorde às seis e trinta, mesmo que agora sejam... quatro e trinta e três da manhã; e, como qualquer objeto que busca a realização da felicidade humana possui necessariamente algum calcanhar de aquiles, ele tem o único inconveniente de receber ligações de pessoas com as quais muitas vezes não desejo falar. São poucas as exceções. Confesso, entretanto, que essa função não deixa de ter utilidade. Ainda que eu não consiga deixar de sentir certo desconforto.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Risca Faca

A rodoviária de Euclides da Cunha é nitroglicerina pura.

Estando lá, vez em quando, entre 3 e 6 da manhã, já presencei cenas memoráveis. Soube que outro dia, quando feliz ou infelizmente eu não estava lá, um travesti brigou com um bêbado porque ele não quis pagar o que devia a amiga prostituta.

Quando saio às 6, o bar ainda está bombando (literalmente, às vezes)

É o típico progresso à lá Br 116.

Mas o pessoal se diverte.

E eu gosto do Brasil, afinal.

sábado, 13 de junho de 2009

Tchau, Mamãe.

"No decote do horizonte divisei o seio da saudade"

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Essa frase está escrita no painel caleidoscópico da rodoviária da Feira. Certamente uma frase de paralamas (e não parachoque) de caminhão.
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Seio e Saudade.
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Sempre desconfiei que os caminhoneiros não lidam bem com essa coisa do édipo. Quando, na estrada, me deparo com a clássica "AMOR SÓ DE MÃE" recordo-me imediatamente dos devaneios do velhinho do cachimbo.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Caos.

Quem acredita na existência de alguma ordem no mundo, deve rezar um pai nosso e duas ave's maria antes de dormir.

[e não acordar]

Orientupis.

Uma mulata oriental na Estação da Lapa.

Inclassificáveis. Somos mesmo inclassificáveis.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Não cague no mar.

"Não faça no mar aquilo que voce costuma fazer no banheiro. [pausa] Se é desagradável entrar no banheiro e percerber certas coisas no sanitário, imagine para quem está se banhando no mar?"

Essa campanha é promovida pela rede de TV dos ônibus urbanos da Cidade da Bahia. Ao publicitário faltou a presença de espírito de resumir ao final - ou mesmo substituir - o texto sutil e covarde por uma frase com "pegada" bem mais simplória e eficiente: "NÃO CAGUE NO MAR". E ponto.