quinta-feira, 25 de junho de 2009

São João.

No dia 21 alguém me disse que com o domínio dos eletrônicos e o escanteiamento do forró pé de serra o são joão já era. Pensei rápido e discordei. O são joão está aí, vivo. Nós (e me incluo aqui já na categoria dos saudosistas) é que ficamos velhos. Se antes a zabumba batia no compasso da nossa pulsação, hoje são as batidas sintéticas do teclado que orientam o ritmo da dança (o forró é feito pra dançar). Eu não gosto da batida de teclado, mas muita gente gosta.

Eu gosto é de Aviões do Forró.

E como diz Gil, gosto de gostar. Eles vieram pra sofisticar a batida eletrônica. Na linha evolutiva do forró eletrônico eles são tão vanguarda em relação à 'calcinha preta', por exemplo, quanto o 'fantasmão' é em relação ao 'é o tcham'. Eles inventaram uma batida que 'quebra' de uma forma muito agradável e sofisticada o tempo da música (riquelme na 'batera'); o contrabaixista parece ter compreendido essa 'sofisticação' e faz coisas inacreditáveis em cima da linha da bateria; os metais também são impecáveis e me lembram 'los hermanos'. A prova de que estou ficando velho e da sofisticação desse novo forró é o fato de eu não saber dançar nesse novo compasso (assim como nunca consegui dançar arrocha). Na minha opinião, eles fazem forró tradicional. Mais que isso: inventaram uma tradição. Se o mestre lua cantava as caminhadas dos sertanejos no sertão de canindé, a música de aviões do forró retrata hoje o que há de mais típico nas cidades sertanejas do interior. Ninguém mais anda a pé.

As motocicletas se multiplicam como pragas na lavoura de feijão.

A linha que separa o mundo 'urbano' do 'rural' está se liquefazendo (para usar o termo de baumman). Os adolescentes estudam na cidade, acessam a internet, tem orkut, e a tarde vão bater feijão no terreiro da casa. Fico intrigado em pensar o que passa pela cabeça deles. Eu, sinceramente, estaria completamente desorientado. E talvez o reflexo dessa 'desorientação', agravada pelo próprio fato de serem adolescentes, seja a fotografia perfeita da cena "alô, tô num bar, chegue já! tô aqui comendo água, fazendo farra'.

[retorno ainda a este tema. tem muito caroço nesse angu]

6 comentários:

  1. Incrível como em algumas linhas você conseguiu sintetizar tudo o que eu acho sobre Aviões do Forró e blábláblá!
    Muito bom.
    E não, não pretendo me identificar porque não costumo "conhecer" pessoas nas internets da vida. Acontece que seu blog me cativou.

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  2. O estilo dos textos, com as frases soltas, é muito interessante.

    Michael Jackson morreu ontem.

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  3. "Michael Jackson morreu ontem"

    Deve ser mais uma das suas. Depois de vender tantos milhões discos, ninguém pode morrer assim... (é sério mesmo? ele morreu?)

    ***

    Anonimo (a)

    Me expondo do jeito que estou, o seu costume de não conhecer pessoas pelas internets da vida já está ruindo um pouco. Mas fique a vontade para ler e comentar da forma que desejar.

    Eu até gosto de comentários anônimos porque eu não faço a menor idéia de quem escreveu.

    um abraço.

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  4. Talvez esteja te "conhecendo" um pouco mesmo, e talvez as minhas convicções estejam sendo quebradas. É que vale a pena.
    Um abraço.

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  5. Confesso que nunca ouvi Aviões do Forró. Claro: uma música ou outra já deve ter tocado perto de mim, mas não conheço.

    Para além da banda, coisa boa nesse post é a observação da relação de urbano e rural. Estive ao pé de uma serra agora pelo São João e vi só dois ou três velhos a cavalo pela estrada. De resto, só motocicleta. Particularmente, acho que vai se confirmando isso aqui: o mundo rural (ou sua versão a cavalo, sem energia elétrica e na base de sanfona de oito baixos) é, cada vez mais, coisa nossa, de gente da cidade que vai à roça vez ou outra.

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  6. Aprendi o arrocha faz pouco tempo e digo vaidosa porque acho tanto o som como a dança coisas complexas por demais.

    [penso: não estou tão enferrujada, pois.]

    É que gosto de suas quebras, em seus muitos sentidos. Também gosto dessa batida do Aviões e acho que ela garante que a banda se mantenha no topo.

    [aliás, coisa muito desejada hoje em dia quando o assunto é avião.]

    Mas me surpreendo mesmo é como as letras e é por elas que lanço esse fragmento, digo, esse caroço de angu.

    Por causa delas, os clichês cantados pelas outras bandas de forró ficaram ainda mais ultrapassados.

    Não foi apenas o som que mudou. Não tem mais vaqueiro, peão, moça chorona e amores infinitos nas canções.

    As letras continuam falando de coisas que muitas pessoas querem ou precisam ouvir. Porém, as baladas adolescentes com gosto de água com açúcar já eram.

    [o mercado da música não dorme no ponto e acompanha/cria tradições com muita rapidez.]

    Nas músicas, as relações afetivas são tratadas de forma bem objetiva, mais perto do cotidiano de muita gente, além de ficar evidente o estilo de vida proposto como predominante. O gozo, antes um desejo, virou um imperativo e o "carpe diem" ganhou novo sentido.

    O cara que liga pra mulher pra dizer que está comendo água, garante a ela que vale a pena lhe esperar (vai deixá-la louca). Ele simplesmente é in-fa-lí-vel.

    [É possível sempre?]

    Ela, por sua vez, acha que tem que "fazer valer". Diz também que "era boba" mas não é mais, pois "entre um homem e uma mulher os direitos são iguais". Ela se vinga. Aí pinta o cabelo, entra na academia, depois de compreender que o mundo é uma bola.

    Natural, não? Afinal, as pessoas querem mesmo, como os aviões, ficar "por cima", ou melhor, "beber, raparigar, fazer zueira, pra beber não tem hora".

    É engraçado porque consolida um estilo de música próprio pra elevar o ego, pra quem deseja se auto-afirmar e portanto passar longe da melancolia, da saudade, das frustrações e das crises das canções antigas.

    Não. Não tem mais o sofrimento do sertanejo e tampouco é o olhar que incendeia o coração, no terreiro.

    É algo tipo "vamos esquecer as crises". Mas o que me intriga é: como alguém que gosta das letras de Aviões consegue não ficar "por baixo" quando não dá pra fugir das crises? Ainda mais quando se é adolescente, como foi dito nesse post?

    [lembrei de Partido Alto.]

    Não vou apresentar conclusões aqui porque ainda estou nos fragmentos. Acontece que gostei das provocações do blog e quis comentar.

    [coisa que nem costumava fazer.]

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