segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cardápio, por favor.

Por Juliana Ribeiro.

[http://www.flickr.com/photos/juribeir0/]

Um trecho importante foi omitido do diário. Vale lembrar que após retornarmos exaustos, fomos curtir um pouco a night de Canudos.

Muito movimento na praça, umas três pizzarias abertas e mais uns dois botecos com sinuca (claro!). No entanto, optamos por uma churrascaria lá na entrada da cidade... a pizza poderia ser muito indigesta à noite. (que coisa!)

A churrascaria tinha um movimento, umas duas mesas de gente bebendo e conversando do lado de fora, uma sinuca com uns dois jogadores do lado de dentro e um som agradável ao estilo aviões do forró.

Logo chegou uma moça pra nos atender. Naturalmente pedimos uma cerveja e... “o cardápio porfavor”. Cardápio? Ela nos olhou com a cara de quem não sabia como agir diante de duas pessoas tão estranhas. “peraê”. Voltou. “É que... Eu vou chamar ali o dono”.

Veio um rapaz que não era o dono: “boa noite, vocês querem pedir?”. E nós já desconcertados por ter pedido o tal cardápio, não cometemos o mesmo erro:

– Err... A gente queria saber assim o que tem.

Ele disse que tinha “bode... (_____) calabresa... (_____) frango...”

Fiquei sem saber se devia perguntar:

– E carne de boi, tem?

– Ah sim, tem carne de boi também. Coração? Coração não tem não.

– Hum, certo. (pausa) Eee... como as pessoas costumam pedir aqui?

Pensei nas outras mesas em volta. Ele olhou com a mesma cara estranha e um riso amarelo acanhado. Devia estar rindo da gente.

– Hum... Eu vou chamar ali o dono que ele explica.

Depois de conversar com o dono entendemos que de fato não existe um cardápio ou um preço pra alguma coisa. Ele, acho que já avisado, nos tratou como verdadeiros turistas estranhos numa terra que turista não é um bicho tão comum quanto bode! Disse que era tudo muito bom, gostoso e que a gente dava o preço. Explicamos o que queríamos. Ele falou que entre 10 e 20 reais ele fazia lá a quantidade. Ele trouxe o que achou que valia 15 reais... E foi muita carne!


Ainda ganhamos de entrada pititingas do açude Cocorrobó com gosto rançoso e aparência de que tinham acabado de ser pescadas e jogadas no óleo com aqueles olhinhos esbugalhados. Só com muito limão em cima... E graças a tudo isso estava uma delícia!


Continuo sem entender como aquilo ali funciona. Ajudou um pouco quando compreendi depois que nas duas mesas cheias estavam sentados os donos. De uma mesa saiu o dono que nos atendeu, e da outra veio a esposa dele me perguntar se estava gostoso com o sorriso improvisado das baianas de acarajé do Pelourinho em Salvador.


Sem querer ferir seu orgulho sertanejo... Fomos turistas em Canudos!

Um comentário:

  1. Acho que fomos "também" turistas em Canudos. Mas não só. O próprio "diário" confirma isso.

    E só para pontuar outra coisa: quando me refiro a "orgulho de sertanejo que quase fui" não estou falando de "sentir orgulho" do simples fato de ter quase nascido sertanejo; me referi ao "orgulho" enquanto conjunto de valores internos que podem ser "feridos" numa situação externa (como cair da moto no areião).

    Não digo que voce escreveu nesse sentido, mas algum leitor desavisado poderia interpretar assim.

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